sexta-feira, 4 de março de 2011

2ª Apostila de Filosofia.

COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE COSTA E SILVA
DISCIPLINA – FILOSOFIA – 2ª SÉRIE
PROF. RAYMUNDO GOUVEIA
TEXTO 1 - Os Sofistas
Na história do pensamento grego houve uma fase muito particular que foi extremamente importante, mas de duração relativamente curta: o período dos sofistas. Esse período compreendeu os séculos IV e V a.C. e envolveu poucos, porém grandes intelectuais, pensadores e cientistas, dentre eles: Demócrito, Protágoras, Górgias e Hipías.
Os sofistas sistematizaram e transmitiram uma série de conhecimentos estudados até os dias de hoje. Dominavam técnicas avançadas de discurso e atraiam muitos aprendizes. Eles não ensinavam em um determinado local, eram conferencistas itinerantes, viajando constantemente. Os sofistas ensinavam uma série de conhecimentos não abordados pela escola regular, como: física, geometria, medicina, astronomia, retórica, artes e a filosofia em si. Antes de mais nada, os sofistas se preocupavam em manejar minuciosamente as técnicas de discurso, a tal ponto que o interlocutor se convencesse rapidamente daquilo que estavam discursando.
Para eles não interessava se o que estavam falando era verdadeiro, pois o essencial era conquistar a adesão do público ouvinte.
A argumentação dos sofistas não se propunha a levar o interlocutor a questionar-se sobre a verdade dos fatos, dos princípios éticos ou dos sentimentos. Ao contrário, buscava reforçar no ouvinte ideologias que fossem aproveitáveis para manipulação do povo.
Porém cabe ressaltar que naquela época os sofistas eram os únicos capazes de desenvolver uma cultura geral aprofundada e ao mesmo tempo formar oradores eficazes.
A filosofia de vida dos sofistas adotava uma visão de mundo extremamente egoísta e utilitária diante dos problemas da atividade prática. Em resumo, os sofistas eram considerados mestres da oratória, que cobravam um alto preço dos cidadãos para aplicação e ensino de suas habilidades de discurso, o que para os gregos eram fundamental na política. Os sofistas defendiam que a verdade surgia por meio do consenso entre os homens.
A palavra "sofística" deriva do grego sophos, "sábio". Um "sofista", etimologicamente falando, é "um homem sábio", assim como "phílo-sophia" é amor à sabedoria".
Os sofistas trouxeram uma imensa contribuição para a evolução do conhecimento do homem, mas seus métodos não respeitavam princípios éticos. À medida que o tempo foi passando, os sofistas concentraram-se menos na sabedoria e mais na retórica, a arte de tornar convincente – pela argumentação - qualquer causa, boa ou má. Para eles, os fins justificavam os meios. Se os sofistas originais foram homens venerados por sua grande sabedoria, “sofista” hoje é aquele que enfeita mentiras para que pareçam racionais.
Você tem encontrado sofistas por aí?
COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE COSTA E SILVA
DISCIPLINA – FILOSOFIA – 2ª SÉRIE
PROF. RAYMUNDO GOUVEIA
Texto 2 - Características gerais dos sofistas
A primeira dificuldade em se falar dos sofistas em geral decorre do fato de não constituírem uma escola filosófica propriamente dita. Como veremos adiante, os sofistas seguem direções variadas e até mesmo opostas. Agrupá-los pelo que têm em comum, serve apenas para diferenciá-los dos filósofos anteriores, notadamente os pré-socráticos e suas preocupações com o mundo físico.
Os sofistas marcam a passagem do período cosmológico para o período antropológico, centrado em questões linguísticas, gramaticais e jurídicas. De acordo com Guillermo Fraile (História de la Filosofia, Volume I, páginas 226/227), as características gerais dos sofistas são as seguintes:
a. Relativismo – Tudo que existe é impermanente, mutável e plural. Tudo muda, as essências das coisas são variáveis e contingentes.
b. Subjetivismo – Não existe verdade objetiva. As coisas são como aparecem a cada um. «O homem é a medida de todas as coisas.» (Protágoras)
c. Ceticismo – Não podemos conhecer coisa alguma com certeza absoluta. O conhecimento humano é limitado às aparências.
d. Indiferentismo moral e religioso – Se as coisas são como parecem a cada um, não há nada que seja bom ou mau em si mesmo, pois não existe uma norma transcendente de conduta. Em matéria de crença religiosa, devemos ser indiferentes, isto é, tanto faz acatar estes ou aqueles deuses. Alguns sofistas foram acusados, em conseqüência desta postura, de ateísmo.
e. Oportunismo político – Se não há nada justo e injusto em si mesmo, todos os meios são bons para se atingir os fins que cada um se propõe. O bom resultado justifica os meios empregados para consegui-lo. A eloquência é a arte da persuasão e pode ser empregada indistintamente para o bem e para o mal.
f. Utilitarismo – Mais do que servir ao Estado, os sofistas ensinavam a empregar as habilidades retóricas a serviço dos interesses particulares, manipulando, se necessário, os sentimentos e as paixões.
g. Venalidade – Ao cobrarem por suas lições, os sofistas sofreram a crítica mais severa por parte dos atenienses, que não aceitavam fazer da atividade intelectual uma forma de negócio. Platão qualificava os sofistas de «mercadores ambulantes de guloseimas da alma». (Protágoras, 313c)
h. Humanismo – Ao centrar seus interesses nos problemas humanos, os sofistas podem ser comparados aos humanistas da renascença (século XV), preocupados com os problemas práticos do homem político, da natureza humana inserida na pólis e na vida do Estado.
O que se percebe nesta caracterização? Apenas o último item é positivo, enquanto todo o restante é condenável.
Podemos reconhecer aos sofistas gregos os seguintes méritos:
Iniciaram uma reflexão sistemática sobre os problemas humanos, ao invés das questões naturais e cosmológicas dos filósofos pré-socráticos;
Aperfeiçoaram a dialética e a discussão crítica sobre as limitações e o valor do conhecimento;
Defenderam o conceito de natureza comum a todos os homens, o que serviu para fundamentar a lei de modo mais igualitário e universalista;
Desenvolveram princípios educativos para o ensino de gramática e retórica; Protágoras considerava-se um mestre da sabedoria e da virtude política (politiké areté), formando os jovens para o debate público e o governo do Estado. O ideal sofístico de uma natureza humana que pode ser educada e constantemente aperfeiçoada deu início à ciência pedagógica e à formação humanista na antiguidade.

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